quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

A última chance

Eu fumava aquele cigarro como se fosse o meu último. Olhava para a fumaça que inalava com certa intensidade, esperando que aquele momento de êxtase nunca acabasse. Olhei para os meus pés e pensei : o que eu faria se a minha vida acabasse quando o cigarro chegasse ao fim ? A minha vontade era de continuar ali, sentado, poluindo meus pulmões. Quando de supetão a imagem da minha mãe apareceu, seguida pela de meu pai e meus irmãos. Eu devia algo para eles. Eu devia um adeus. Eu devia tanta coisa para tanta gente. Me encolhi na cadeira. Apanhei o celular do bolso e fui direto para a agenda, procurando o número da única pessoa que realmente me fazia querer viver. "Que vergonha de mim, ela foi embora porque quis. Cadê a minha dignidade ?" Me interrogava. Logo pensei que mortos não tinham dignidade nem meio-mortos. O cigarro estava acabando... e me restara no máximo uns minutos. Disquei o número. Tu...tu...tu.
- Alô ? Alô ? Olha Fábio, se for você... me ouve.

Desliguei." Como ela pode querer que eu a ouça ? Eu a amei inefavelmente. Não quero suscitar o assunto... mas não entendo como ainda me machuca. " Recuperei-me do momento súbito de fraqueza. Escondi as lágrimas na têmpera de minhas sobrancelhas. Eu precisava ouvir pra tentar seguir a minha vida. Então liguei de novo. Tu...tu...tu...tu...

-Pode falar.

-Eu te amo.

-Seu Fábio, o médico lhe chama. Chegou a hora.

Desliguei o celular, apaguei o cigarro pois já estava fumando o filtro e me encaminhei a sala de cirurgia.

Um comentário:

Dreisse Drielle disse...

Nossa. Amei o texto. emocionante. (:
bjs ;*