sexta-feira, 10 de julho de 2009

Limpidez

Sabe aqueles dias em que tudo parece tão límpido como a água ? As tuas ações, as ações dos outros... tudo parece estar sendo esclarecido. Pois é, eu tenho medo desses dias. Tenho medo porque não gosto de ver o que há por traz dos olhares que me lançam, não quero sentir a intensidade de cada abraço e não quero me remeter à doces lembranças ou rudes palavras. Porém, creio que nesses dias é que você tem que parar e pensar : ' O que eu estou fazendo ou pensando está certo ? Ou pelo menos está de acordo com um certo parâmetro de ética ? '
É tão difícil olhar pra dentro de mim e ver que nada sobrou. É engraçado até, deixar aquela menininha para traz, aqueles sorrisos aleatórios e palavras soltas ao vento. É bom sair da infância, lógico, não é tão bom quanto entrar nela, mas é válido. Você acaba percebendo que está sozinho no mundo! Haha. Olha pro lado, cadê os meus amigos ? Estão cuidando dos problemas deles. Cadê meus pais ? Estão trabalhando pra te sustentar. Mas... cadê a minha família ? 'Pois é minha filha, sabe... não deu certo, seu pai e eu não nos amamos mais e sabe como é né ? Estávamos esperando você atingir sua maturidade'. Que merda de maturidade é essa ? Não sei, até hoje.
Por tudo isso, hoje eu posso falar que sou consciente de tudo o que faço, de tudo o que eu digo. Minha inocência acabou nesse instante. Não esperem mais nada de mim, não esperem amor e não esperem ódio, não esperem rancor e nem esperem compaixão, não esperem Diabo e nem esperem a velha Laila. Não esperem nada a mais.
OBS: É apenas um dia ruim.

Tempo

Eu não consigo mais sorrir. Dentre as ótimas qualidades que eu tinha, é dessa que eu sinto mais saudade. O tempo transforma e acaba. Na maioria das vezes acaba com coisas que demoraram muito para serem construídas, mas isso não quer dizer que ele não acabe com algo que ainda nem aconteceu. Dilacera. Mata. Corrompe.
E quem é esse vilão ? Esse tormento dos velhinhos e dos adolescentes ? Me pergunto isso todos os dias quando levanto às cinco e dez da manhã; olho para o espelho, vejo uma pele jovem, com pequenos cravos, vejo olheiras que logo serão camufladas por maquiagem, e principalmente, vejo uma boca seca... está aí o real motivo de toda a minha preocupação. Minha boca foi sempre 'molhada', digamos, eu odiava quando ela ficava seca, sempre carregava um batom; os anos passaram, até que meus lábios não precisavam mais de batom, 'molhavam-se' por si só.
O tempo passou ( olha aí o tempo de novo ), e minha boca foi secando, secando e secando. Quando me atentei que aquilo virara permanente, fiquei indignada e comecei a passar os dentes e a língua para deixá-la como antes. Fiquei desse jeito o dia todo e ao final dele, minha boca estava ferida e só percebi porque eu já estava engolindo o próprio sangue que escorria dos machucados. Foi quando percebi que não adiantava mais tentar, minha boca tinha mudado. Meu corpo, meu caráter, minha personalidade. Tudo. Mudanças.
Indo de volta para casa, o motorista perguntou :
- Minha princesinha, sua boca está muito seca! Você anda tomando pouca água ?
- Não. Eu acho que minha boca vai ser assim agora.
- Mas eu tenho uma pomadinha de cacau deliciosa que evita essa secura toda. Você quer ?
- Muito obrigada, mas já estou me acostumando com a idéia de tê-la assim.

E voltei a olhar para o carro ao lado.